#TBT: O Sexismo e a Cultura Sneaker (revista SBR Ed. 10)

12 jul 2018
Hoje é quinta, dia de resgatar matérias da revista sbr.
A matéria que trouxemos para o tbt desta semana é “O Sexismo e a Cultura Sneaker” escrita por Olivia Lang, da Revista SBR ed. 10. Esta edição foi veiculada em setembro de 2016.
Por Olivia Lang

Se você gosta de tênis, você sabe que a cultura sneaker cresceu muito nos últimos anos – obrigada, internet!

Ainda assim, se eu te pedir para listar três mulheres brasileiras e colecionadoras de tênis, quanto tempo você vai levar para responder? Pois é.

Ninguém pensa em mulher quando pensa em tênis, essa é a real.

É cultural: nós, mulheres, não tivemos o mesmo acesso que os homens ao basquete e ao skate, grandes influenciadores da cultura, por exemplo.

Por muito tempo, a mulher sequer podia treinar qualquer tipo de esporte. No início do século 20, o movimento pelos direitos das mulheres – o mesmo que estava lutando pelo nosso direito de voto – estava lá, brigando também por uma maior participação feminina no atletismo.

E a cultura perdurou. Estamos em 2016 e, até agora, a maioria dos atletas que assinam tênis com grandes marcas são homens. A mesma coisa para modelos assinados por artistas.
Não é muito difícil chegar na raiz do problema: dentro das maiores empresas de sportswear há pouquíssimas mulheres em cargos de liderança. É majoritariamente tudo feito por homens, para homens. Somos as últimas na lista de prioridade: antes vêm os homens e as crianças – ou melhor, os meninos.

Além do sexismo dentro do próprio meio, um dos maiores problemas que as mulheres enfrentam hoje é a falta de tamanhos pequenos nas grades. Até mesmo na grade GS (grade school), as versões pequenas dos modelos masculinos são chamadas de “boy’s shoes”. E ainda que tenhamos vantagens em comprá-los – menos dinheiro, menos fila – a gente sabe que não é a mesma coisa: a qualidade dos materiais não é a mesma, um detalhe ou outro sempre vem diferente. Nem mesmo a caixa é “original”.

O “meio sneaker” sempre foi, e ainda é, predominantemente masculino. Isso não quer dizer que nós, mulheres, não estejamos aqui, implorando para que as marcas nos vejam com um olhar menos superficial.

Não queremos só tênis rosas, em tons pastel, com estampa de flor ou com salto – por favor, salto não!

A questão é que as marcas ainda não perceberam como isso é um tiro no próprio pé. A matemática é simples: se o mercado de tênis para mulheres fosse tão bem explorado e aprofundado como é para homens, o lucro dentro do segmento seria maior do que é hoje. Por que? Porque as mulheres compram!

Mas como se aprofundar no que a mulher quer consumir?

Promovendo mudanças de paradigmas dentro das próprias empresas e inserindo mais mulheres dentro da cadeia de criação e produção.

Essa realidade já está diferente. Exemplos disso são as recentes colaborações da PUMA com a designer holandesa Careaux e também com as americanas Sophia Chang e Va$htie. A Nike, que no ano passado anunciou parcerias com a grife japonesa Sacai e com a alemã Johanna Schneider, ex-designer da ACRONYM, também tem dado continuidade a essa trajetória. E, claro, não há como não citar a adidas, que já está na sua quinta coleção com a carioca Farm.
Visando atender melhor a demanda feminina do mercado, algumas lojas destinadas aos pés pequenos também têm aparecido com mais frequência. A dinamarquesa Naked e a Small Feet Big Kicks, de Londres, são duas delas. Mas ainda não é o suficiente.

Da nossa parte, como consumidoras, que continuemos ocupando cada vez mais espaços – as redes estão aí pra nos ajudar, manas! – mostrando nossos anseios, criticando a visão estigmatizada da indústria e fazendo valer a nossa opinião.

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