Conversamos Com As Mulheres Por Trás Da Campanha Dos Converse x SneakersBR ‘Lanceira’

EDITORIAL
05 ago 2021
Por: SBR Team

Em 2021, comemoramos as raízes do SneakersBR e o legado do Nike Air Max 1 “Lanceiro”, nosso modelo de 2009, em um projeto muito especial. 12 anos depois, em parceria com a Converse, contamos um pouco da história do Maracatu pelo ponto de vista feminino e mostramos que qualquer espaço pode ser ocupado pelas mulheres.

A campanha de “Lanceira”, como batizamos o projeto e as duas versões do Chuck 70 criados nele, teve uma equipe de muitas mulheres por trás das câmeras. Conversamos um pouco com três delas sobre esse trabalho, sobre suas relações com as histórias que contaram e também sobre como é ser mulher em um meio predominantemente masculino - coisa que nós, do W, e as mulheres do Maracatu conhecem bem.

WSBR: Primeiro de tudo, se apresenta pra gente. Quem é você, de onde vem, do que se alimenta, qual foi sua parte no projeto “Lanceira”?

Bella Galvão: Eu me chamo Isabella, mas todo mundo me chama de Bella, mesmo. Sou artista visual, nascida e criada em Recife. Minha maior fonte de alimento são as pessoas, elas sempre vão ser o meu maior objeto de pesquisa. Observar, escutar e contar essas histórias através do meu olhar é o meu ofício, o que veio super a calhar no projeto “Lanceira”. Me aproximar dessas pessoas para então transportar esse universo para o filme foi o meu papel.

Malu Donanzan: Oi, sou a Malu Donanzan, recifense, 35 anos e trabalho com marketing e produção audiovisual. Sou sócia na produtora de imagens BangBang há 6 anos e, lá, desenvolvo o papel de Produtora Executiva e Diretora de Cena em projetos especiais como é o “Lanceira”.

Sylara Silvério: Me chamo Sylara Silvério, tenho 32 anos, sou de Natal e moro em Recife desde 2015. Sou graduada em Rádio e TV pela UFRN e pós-graduada em fotografia e audiovisual pela UNICAP. Esses dias, eu estive refletindo sobre como nada é por acaso, né?! Desde criança eu gosto de arte. Por ter morado em zona periférica, as artes às quais eu tinha acesso não eram dessas muito chiques, não, eram brincadeiras de rua, programas de TV, vídeos de fita de videocassete alugado. Lembro que eu sempre estava no meio de algo artístico, seja dançando quadrilha junina, seja formando uma banda imaginária com meu irmão e meus primos. Paralelo a isso, cresci acompanhando painho construindo coisas, usando todo tipo de ferramenta, furadeiras, fazendo instalação elétrica. Achava encantador, eu queria fazer aquilo também. Hoje eu sou diretora de fotografia e assistente de câmera, mexo tanto com conceitos artísticos diversos, quanto com chave de fenda, lâmpadas e malas de ferramentas, e é incrível como tudo isso faz muito sentido.

WSBR: Você já conhecia a história das mulheres no maracatu antes do projeto? Como foi se aprofundar num ícone tão forte da nossa cultura e ajudar a contar essas histórias?

B.G.: Confesso que, como pernambucana, crescemos com o maracatu muito perto de nós. Isso acaba naturalizando um pouco nossa relação e, consequentemente (e infelizmente), trazendo menos curiosidade. Eu não conhecia a história dessas mulheres e, pra mim, foi um prazer poder me aprofundar, ouvir e carregar mais um exemplo comigo. Exemplo de que nós, mulheres, podemos estar inseridas em todos os espaços, ocupando lugares de liderança, ancestralidade e autonomia.

M.D.: Sabia de algumas poucas mulheres que brincavam no Maracatu Baque Solto mas conhecer a história de Eliane e seu trabalho junto à Associação de Mulheres de Nazaré da Mata e a força de Dona Maria Viúva e seu Maracatu Estrela da Tarde de perto, foi realmente uma grata surpresa. Sempre que conheço um pouco mais de histórias tão fortes, de mulheres tão incríveis, eu sinto que entendo cada vez mais um pouco do meu papel como mulher no mundo.

S.S.: Fazer audiovisual nos leva para lugares a que talvez nunca tivéssemos acesso. Essa nossa inquietude em contar histórias e mostrar ao mundo experiências, estilos de vida, cultura, é muito encantadora. Desde que vim morar em Recife, fui sentindo cada vez mais a importância que esses movimentos culturais têm para as pessoas. Mas eu confesso que, no meu imaginário, esse processo era uma coisa muito masculina. É mais comum encontrar pelas ruas um homem vestido de Caboclo de Lança. Então, quando houve esse convite por parte de Malu Donanzan, para integrar a equipe como diretora de fotografia e ajudar a construir essas imagens, eu fiquei muito animada. Conheci Dona Maria Viúva, que é uma senhora forte, que comanda um Maracatu antigo, histórico e com bastante homens no grupo. Ela tem pulso firme e impõe respeito. Junto com suas netas, que são Caboclas de Lança, ela falou muito sobre legado. Ouvir Eliane Rodrigues foi muito inspirador. Como resposta à negativa de algumas mulheres participarem de outro clássico grupo de Maracatu que era dominado por homens, ela e outras mulheres decidiram criar seu próprio grupo e, com isso, as mulheres poderiam ocupar qualquer espaço ali dentro. Olha aí que decisão acertada!

"Essa nossa inquietude em contar histórias e mostrar ao mundo experiências, estilos de vida, cultura, é muito encantadora."

– Sylara Silvério

WSBR: Assim como elas, e também como nós, você trabalha em um meio que é majoritariamente masculino. Nos últimos tempos, com essa discussão mais forte, a gente vem observando vários movimentos para equalizar a presença de mulheres no audiovisual. Você se sente impactada por essa movimentação do mercado? A perspectiva é positiva?

B.G.: Com certeza esse movimento tem feito a roda girar. Acho que tanto as marcas, como produtoras e afins, começam a ter a consciência de que, se chamamos mulheres (usando esse exemplo) para conduzirem projetos que contam histórias de outras mulheres, o trabalho se torna mais coerente e mais REAL. A identificação entre os dois lados traz verdade e sensibilidade para as telas. O público percebe isso e recebe melhor a mensagem que queremos transmitir. A perspectiva é positiva sim, avaaaaante! <3

M.D.: O quadro de mulheres no audiovisual é um pouco melhor do que no Maracatu Baque Solto mas, ainda assim, majoritariamente masculino. Tento sempre envolver o maior número possível de mulheres, cis ou trans, quando monto as equipes. Ainda temos poucas diretoras de fotografia e maquinistas, por exemplo, mas aos poucos, com o esforço de outras mulheres, vamos formando e dando oportunidades para mais manas entrarem e se firmarem no mercado. A perspectiva é positiva porque mais mulheres vêm entendendo o papel do feminismo nas nossas vidas.

S.S.: A direção de fotografia, assim como a assistência de câmera, são funções majoritariamente masculinas - especialmente a assistência. Acredito que o mercado audiovisual anos atrás era muito mais intimidador, desestimulante e misógino. Fico pensando em quantas mulheres incríveis poderiam ter permanecido nesses espaços, se tornando grandes referências e deixado suas marcas. Hoje, apesar de ainda existir muita dificuldade em se estabelecer no mercado por ser mulher, por muitas vezes acharem que nós somos fisicamente fracas ou até mesmo por duvidarem da nossa capacidade artística e técnica, eu estou vendo muitas mulheres chegando com tudo e imprimindo uma qualidade estética, narrativa e técnica incrível. Quantas mulheres fodas! Apesar de, em alguns momentos, eu me sentir apenas uma cota, do ponto de vista de algumas produções que se dizem inclusivas e que são "obrigadas" a contratar mulheres, também sei que é preciso estar lá e ressignificar esses espaços. Essa movimentação pela diversidade é extremamente importante para que a gente tenha oportunidade de desenvolver nosso trabalho, errar e acertar, ser reconhecida, impor condições mais dignas, crescer profissionalmente e se realizar no trabalho. Quem sabe um dia essas barreiras não existam mais.

"...se chamamos mulheres para conduzirem projetos que contam histórias de outras mulheres, o trabalho se torna mais coerente e mais REAL."

– Bella Galvão

WSBR: Como foi para vocês, como equipe, trabalharem juntas nesse projeto? Todas já se conheciam antes? Tem alguma história legal sobre o processo que queiram compartilhar?

B.G.: A experiência foi massa. Acho que cada uma de nós tem um background diferente, então quando juntou tudo deu um caldo bom (risos). Eu já conhecia Malu e Luara, as outras tive a sorte de conhecer durante as gravações. O processo todo foi muito leve, mesmo na correria do set a gente conseguiu se alinhar e se divertir no processo.

M.D.: Essa é a terceira oportunidade que tenho de trabalhar com um time essencialmente de mulheres e posso dizer que esses sets foram mais tranquilos e colaborativos. São sets que entendemos e respeitamos o papel de cada um e onde o ego desce dois degraus para abrir espaço para harmonia e colaboração. Para mim, é sempre incrível trabalhar com um time de mulheres.

S.S.: O audiovisual tem uma característica no formato de trabalho que é essa dinamicidade. Uma das vantagens é que a gente sempre está suscetível a conhecer novas pessoas, novas visões, aprender mais e aumentar nosso círculo. Inicialmente, eu só conhecia Malu, pois já tínhamos trabalhado juntas em outro momento. Catharine, que depois entrou pra equipe e foi responsável pelo som direto, eu já conhecia de muitos outros projetos. Convidei Luara para ser minha assistente, por já admirar o trabalho dela e saber que seria uma ótima escolha na correria desses dias de gravação. As outras pessoas da equipe fui conhecendo durante o processo, durante as trocas sobre o roteiro, as conversas sobre amenidades e a intensidade desses dois dias de gravação e outros tantos de planejamento que findaram em resultados incríveis que trouxeram importantes aprendizados.

"São sets que entendemos e respeitamos o papel de cada um e onde o ego desce dois degraus para abrir espaço para harmonia e colaboração."

– Malu Donanzan

Conheça a equipe

Ficha técnica (vídeos):
Direção: Bella Galvão @isabellagalvao e Malu Donanzan @maludonanzan
Direção de Fotografia: Sylara Silvério @sylarasilverio
Direção Criativa: Lucas Andrade @ lucasgsus
Roteiro: Ana Carla Santiago @ancsantiago e Tamyris Pacas @tamyrspacas
Assistente de câmera: Luara Olívia @luaaaolivia
Maquinista: Cesar Alencastro
Som Direto: Catharine Nascimento @theladycath
Van: Enoki Oliveira @enokilimade
Montagem e cor: Carla Tenório @acarlinha
Produção Executiva: Malu Donanzan @maludonanzan
Produção: Thiago Megale @thiagomegale
Produção: BangBang Conteúdo em Imagens @bangbang.ag
Birô lab conteúdos estratégicos @biro.lab

Ficha técnica (shooting):
Fotógrafa: Lara Valença @laravalencan
Direção criativa: Lucas Andrade @lucasgsus

Fotos making of:
Bella Galvão @isabellagalvao
Lara Valença @laravalencan

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